Trump usa taxa sobre aço para pressionar México e Canadá

OPERÁRIO TRABALHANDO NO FORNO DA COMPANHIA SIDERÚRGICA NACIONAL. – Júlio César Guimarães / Agência O Globo

WASHINGTON, PEQUIM, GENEBRA E BRASÍLIA – O presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, avisou nesta segunda-feira que México e Canadá não ficarão livres das sobretaxas referentes ao aço e ao alumínio — de 25% e 10%, respectivamente, que devem entrar em vigor esta semana — se não concordarem em alterar o acordo de livre comércio entre os três países, o Nafta, de maneira favorável aos americanos. Trump se manifestou pelo Twitter, poucas horas antes de uma nova rodada de discussões entre os negociadores do bloco, na Cidade do México.

“Temos grande déficit comercial com o México e o Canadá. O Nafta, que está sob renegociação bem agora, tem sido um mau negócio para os EUA. Saída massiva de empresas e empregos. A tarifa sobre aço e alumínio só vai ser retirada quando um novo e justo acordo com o Nafta for assinado”, tuitou Trump.

Mais tarde, em uma entrevista coletiva, Trump disse que havia falado por telefone com os negociadores e que teve a impressão de que Canadá e México estão abertos à discussão.

— Mas, se eles não aceitarem um acordo, vamos deixar tudo como está — avisou.

No início da noite, o representante de Comércio dos EUA, Robert Lighthizer, disse que o governo Trump propôs excluir Canadá e México das sobretaxas para facilitar um acordo sobre mudanças no Nafta. Ele classificou a proposta de incentivo para chegar a um consenso antes das eleições este ano — presidenciais no México e legislativas nos EUA.

— Tudo isso complica nossas negociações — disse Lighthizer. — Estamos preparados para trabalhar continuamente até conseguirmos um avanço.

Autoridades canadenses e mexicanas já avisaram que, se houver sobretaxa, vão retaliar. O Canadá é o maior exportador de aço para os EUA.

Enquanto isso, o diretor-geral da Organização Mundial do Comércio (OMC), Roberto Azevêdo, fez um apelo para que os Estados-membros impeçam “a queda dos primeiros dominós” de uma guerra comercial. Azevêdo alertou ainda para o risco de a economia global cair em uma “depressão profunda.”

— À luz dos recentes anúncios sobre medidas de política comercial, é claro que agora vemos um risco muito maior e real de desencadear uma escalada de barreiras comerciais em todo o mundo — afirmou o diretor-geral da OMC. — Não podemos ignorar esse risco, e exorto todas as partes a considerar e refletir sobre esta situação com muito cuidado. Uma vez que começamos este caminho, será muito difícil reverter a direção. O olho por olho nos deixará todos cegos, e o mundo, em uma profunda recessão.

As declarações de Azevêdo foram divulgadas em nota pela OMC após uma reunião a portas fechadas.

CHINA ESPERA CRESCER 6,5% ESTE ANO

No Brasil, o Ministério da Indústria e Comércio Exterior publicou nota apontando que o país deverá recorrer “no âmbito multilateral e bilateral” se as sobretaxas forem confirmadas.

Já o presidente do Banco Central (BC), Ilan Goldfajn, afirmou ontem que a taxação do aço e alumínio importados seria uma medida negativa até para os próprios americanos.

— Não há um cálculo específico, mas se sabe que é prejudicial não só ao Brasil, mas ao mundo todo. Uma guerra tarifária, protecionismo no mundo todo. Comércio no mundo diminuindo vai ter impacto em todo o mundo, isso afeta o Brasil, no fim das contas. Acho que é ruim inclusive para os Estados Unidos — afirmou Ilan em entrevista à rádio CBN.

O presidente do BC acrescentou, porém, que os EUA podem desistir da investida diante da forte reação negativa e da ameaça de retaliação por outras nações.

Na China, cuja produção de aço barato foi o argumento usado por Trump para adotar as sobretaxas, foi divulgado um novo plano econômico para este ano. O país prevê crescer 6,5% em 2018, anunciou o Congresso Nacional do Povo na manhã de ontem. Essas medidas incluem a redução da capacidade de produção de aço em 30 milhões de toneladas. Além disso, a capacidade de produção de carvão será enxugada em 150 milhões de toneladas.

globo.com

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