Segurança Pública vira consenso para a oposição no Rio

Após operação no Jacarezinho, forças políticas anti-Bolsonaro miram convergências em conversas que buscam criar aliança ampla no Estado.

O tema da Segurança Pública deve ser o principal ponto de convergência das forças de oposição em 2022 no Rio de Janeiro, berço do bolsonarismo e comandado hoje pelo governador Cláudio Castro (PSC), aliado do presidente Jair Bolsonaro. A operação policial que resultou na morte de 28 pessoas na favela do Jacarezinho, zona norte da capital fluminense, na quinta-feira passada, reforçou a ideia entre participantes desses grupos.

Líderes partidários de diferentes campos ideológicos vão tentar se contrapor à tese de que “bandido bom é bandido morto”, discurso presente na eleição de 2018 do então governador Wilson Witzel e que tem força dentro do bolsonarismo. Acusado de corrupção na Saúde durante a pandemia, Witzel, que foi cassado, tinha como foco de seu discurso uma política de segurança calcada em duras operações policiais.

Dos nomes que fazem oposição ao bolsonarismo, participam das conversas quadros importantes da política fluminense, como os deputados federais Marcelo Freixo (PSOL), Alessandro Molon (PSB) e Rodrigo Maia (DEM), além do prefeito do Rio, Eduardo Paes (DEM, mas de saída para o PSD), do presidente da Ordem dos Advogados do Brasil (OAB), Felipe Santa Cruz, nomes do PT e outros partidos de esquerda.

Eles têm tem destacado a necessidade de construir uma política de Segurança que vá além das operações policiais – uma bandeira histórica de Freixo, que hoje é o principal nome colocado para o pleito.

O grupo político de Paes e Maia – incentivador da candidatura do advogado Santa Cruz ao governo do Rio, mas aberto a composições – criticou abertamente o resultado da operação no Jacarezinho. Dois dias antes dela, em entrevista ao Estadão/Broadcast, o prefeito já havia apontado a Segurança como um dos principais consensos entre seus aliados e os políticos mais à esquerda, além, segundo ele, da importância da retomada econômica do Estado.

O ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva tem defendido uma frente ampla no Rio e manifestou isso a Freixo em encontro que tiveram na última semana. O petista, que considera o Estado uma peça-chave no tabuleiro para a disputa nacional do ano que vem, foi outro a repudiar publicamente a matança no Jacarezinho.

Em Brasília, Lula se reuniu com Molon e Maia e se mostrou simpático à criação de um “palanque múltiplo” em terras fluminenses, capaz de receber os principais representantes de oposição ao presidente Jair Bolsonaro. Essa hipótese vem sendo citada a todo momento pelos políticos do Rio.

Um levantamento do Grupo de Estudos dos Novos Ilegalismos da Universidade Federal Fluminense (Geni/UFF) mostrou que as ações das polícias no Rio têm pouca justificativa legal, apreendem poucas armas e drogas e resultam em muitas mortes. A soma desses fatores levou os pesquisadores à conclusão de que apenas 1,7% das incursões entre 2007 e 2020 na região metropolitana podem ser consideradas eficientes.

Apesar dos dados e dos relatos impactantes sobre o que ocorreu no Jacarezinho – e em outras operações policiais -, a classe política sabe que o discurso de “bandido bom é bandido morto” ainda encontra respaldo em parcelas da população.

“Nosso problema não é de projeto, é de comunicação. Para todo problema complexo há uma resposta simples e errada, que é o que vem sendo feito no Rio”, diz o deputado Molon. “O projeto tem que envolver prevenção social focalizada, com políticas públicas atraindo crianças e adolescentes e disputando seu futuro, além de uma repressão qualificada, a partir de inteligência e investigação.”

Aliado de Bolsonaro, Castro, empossado em definitivo no último dia 1º após um período como interino, lamentou as mortes no Jacarezinho, mas buscou destacar o “longo e detalhado trabalho de inteligência e investigação”.

Um dia antes, ele recebera Bolsonaro no Palácio Laranjeiras, residência oficial do governo. Castro negou que tenha havido intenção eleitoral na operação, mas o “timing” dela jogou luz sobre um movimento que já se desenhava desde que a volta de Witzel ao cargo passou a ser tida como impossível: uma maior ‘bolsonarização’ do novo governador, que é desconhecido do eleitorado e precisa se viabilizar para 2022.

Autor da chamada ADPF das Favelas – Arguição de Descumprimento de Preceito Fundamental que está em discussão no Supremo Tribunal Federal (STF) e busca aumentar o controle externo sobre a atividade policial no Rio -, o PSB de Molon é um possível destino para Freixo, que encontra resistência interna no PSOL na tentativa de buscar o centro. Contudo, isso só deverá ser decidido mais para frente, já que a janela para a troca partidária de deputados abre apenas no ano que vem.

Fonte: Terra

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