Resultado de prévia democrata em Iowa atrasa

Por G1

Eleitores se registram para participar de caucus do Partido Democrata na Roosevelt High School, em Des Moines, Iow, na segunda-feira (3) — Foto: AP Photo/Andrew Harnik

O resultado do caucus do Partido Democrata do estado de Iowa, no meio-oeste americano, atrasou a ser divulgado. Os eleitores se reuniram para começar a escolher quem será o adversário de Donald Trump nas eleições às 19h (22h em Brasília) de segunda-feira (3), mas até a manhã desta terça (4) não havia resultado.

Sem divulgar oficialmente nenhuma parcial dos resultados, o Partido Democrata de Iowa atribuiu o atraso a “checagens de qualidade”. Em 2016, por volta de 0h15 (3h15 em Brasília), mais de 80% dos resultados já eram conhecidos e a maior parte dos 41 delegados do estado já tinham sido atribuídos.

Uma fonte do partido afirmou à rede CNN que o resultado deve ser divulgado “em algum momento” da terça-feira (4).

Graças ao atraso, os candidatos fizeram discursos de agradecimento aos eleitores mesmo sem saber como haviam sido seus desempenhos. A primeira a falar foi a senadora Amy Klobuchar, e Joe Biden e Elizabeth Warren discursaram simultaneamente a seus apoiadores, seguidos por Bernie Sanders e Pete Buttigieg.

Enquanto isso, o diretor de comunicações do Partido Democrata de Iowa, Mandy McClure, divulgou um comunicado, no qual informou que foram encontradas inconsistências nos relatórios de três conjuntos de resultados. “Além dos sistemas de tecnologia usados para tabular os resultados, também estamos usando fotos dos resultados e relatórios de papel para validar que todos os resultados sejam correspondentes e garantir que tenhamos confiança e precisão nos números que reportamos”.

Começam as eleições primárias nos Estados Unidos

Importância de Iowa

O estado de Iowa é o primeiro do país a realizar uma primária, através do sistema de caucus (leia mais abaixo). Uma espécie de assembleia, o caucus é adotado uma minoria de estados nos EUA, e em Iowa é realizado em mais de 1.600 locais.

Embora seja um estado com um eleitorado pequeno, Iowa é considerado crucial para os democratas porque quem tem um bom desempenho ali geralmente vê sua campanha decolar, enquanto aqueles que conquistam poucos votos costumam abandonar a disputa logo depois.

Nas últimas cinco eleições presidenciais, o democrata que venceu o caucus de Iowa acabou se tornando o indicado do partido à presidência: Bill Clinton em 1996, Al Gore em 2000, Barack Obama em 2008 e 2012 e Hillary Clinton em 2016.

Camiseta com a inscrição ‘Iowa Por alguma razão você tem que vir aqui para ser presidente!’, é vista em loja em Des Moines, Iowa, na segunda-feira (3) — Foto: Reuters/Jonathan Ernst

Em 2016, aliás, o atual pré-candidato Bernie Sanders – favorito nas pesquisas para vencer esta noite – ficou apenas 0,2% atrás de Clinton em Iowa.

A próxima disputa dos pré-candidatos democratas acontece em 11 de fevereiro, com primárias no estado de New Hampshire.

Partido Republicano

O Partido Republicano, de Trump, também fez um caucus em Iowa nesta segunda. Embora o partido já tenha declarado que vai apoiar a candidatura do atual presidente, Joe Walsh e William F. Weld também concorreram. Trump venceu com 96.8% dos votos. Para o partido, de qualquer forma, Iowa não tem o mesmo significado: nas últimas três eleições quem venceu o caucus no estado acabou não sendo indicado à candidatura presidencial.

Ainda assim, o presidente enviou ao estado seus filhos Donald Trump Jr e Eric Trump e a nora Lara, para participarem de um evento de campanha em West Des Moines nesta segunda.

Entenda o que é e como funciona o Caucus de Iowa nas eleições americanas

Este ano, a campanha eleitoral de três pré-candidatos democratas foi prejudicada no estado graças ao julgamento do impeachment do presidente Donald Trump no Senado. Como Bernie Sanders, Elizabeth Warren e Amy Klobuchar são senadores, eles tiveram que passar mais tempo do que previam em Washington nos últimos dias, e tiveram menos oportunidades para participar de compromissos em Iowa.

Ainda assim, a preferência entre os eleitores locais é pelo senador Bernie Sanders, que tem 25% das intenções de voto. Em seguida vêm o ex-vice-presidente Joe Biden, que tem 20,6%; o ex-prefeito Pete Buttigieg, com 17%; e a senadora Elizabeth Warren, com 14,6%, segundo levantamento de 27 de janeiro do site RealClearPolitics, que faz uma média de várias pesquisas eleitorais.

O pré-candidato democrata Bernie Sanders fala a eleitores durante evento de campanha em West Newton, Iowa, no domingo (2) — Foto: Joe Raedle/Getty Images/AFP

No domingo, Sanders fez um discurso em Iowa City, onde afirmou que “esta é sem dúvida a eleição mais importante da história moderna deste país. Tudo começa amanhã à noite”.

Para isso, ele conta com minorias, especialmente latinos e jovens, que descreveu como “a geração mais progressista da história” do país, de acordo com a agência France Presse.

Segundo a Pew Research, para as eleições de novembro, estima-se que 32 milhões de latinos estejam habilitados para votar nos EUA, superando pela primeira o número de eleitores negros. De acordo com a Liga de Cidadãos Latino-Americanos (Lulac), em Iowa, um em cada quatro potenciais eleitores do caucus é latino.

Delegados

Como o nome democrata ainda não foi decidido, até junho todos os 50 estados, o distrito federal e os 5 territórios americanos votarão em caucus — como é o caso de Iowa — ou nas chamadas primárias para decidir quem será o candidato do partido.

Esses votos serão representados por delegados na convenção do partido, em julho. Quem ganhar a maioria dos delegados vence a nomeação – e vai concorrer com Trump nas eleições gerais, em 3 de novembro. (Entenda detalhes deste processo mais abaixo nesta reportagem).

Iowa irá enviar 41 delegados à convenção — que vão representar, de forma proporcional, quantos votos cada candidato recebeu no estado.

Eleitores aguardam contagem em um ginásio, durante caucus em Des Moines, Iowa, na segunda-feira (3) — Foto: Reuters/Jonathan Ernst

Veja em 5 passos o que acontece no estado no dia do caucus:

  1. Os cidadãos se reúnem em um local público (pode ser uma escola, um ginásio ou uma igreja, por exemplo) de acordo com o endereço onde moram. Depois que todos chegarem, há breves discursos dos organizadores e de autoridades locais. Representantes das campanhas podem aproveitar esse momento para argumentos de última hora.
  2. Na hora da votação, os moradores se separam em cantos diferentes do local: eles se reúnem em grupos de acordo com o candidato que apoiam. Tudo é feito de maneira aberta — ao contrário das votações em urnas.
  3. Os eleitores anotam, em um pedaço de papel que receberam na entrada do precinto, o nome de sua primeira escolha como candidato. Esta é uma novidade para este ano, que vai ajudar o partido na contagem dos votos.
  4. Depois da primeira rodada de votação, há um processo chamado de realinhamento: eleitores de candidatos que tiveram menos de 15% dos votos têm três opções: escolher outro candidato, convencer outros eleitores a se juntarem a eles ou ir embora. Essas pessoas também devem anotar o nome de sua segunda escolha, do outro lado do mesmo pedaço de papel.
  5. A contagem final dos votos é feita. Neste ano, pela primeira vez, o Partido Democrata divulgará, além da quantidade de delegados obtida por cada candidato, também o número de votos populares obtidos por cada um (conforme os registros nos papéis).

Iowa é o primeiro estado a escolher candidato democrata; convenção do partido, em julho, decide em Milwaukee quem irá disputar Casa Branca com Trump — Foto: G1

Depois que a contagem for feita em todos os precintos, fica determinado quantos delegados cada candidato obteve. Com apenas 41 delegados, Iowa não representa muito, numericamente, dentro dos cerca de 4 mil que vão participar da convenção — o número exato ainda pode sofrer mudanças —, mas pode ajudar os candidatos a ganharem impulso nas campanhas.

Quem lidera as pesquisas para ser o candidato democrata?

O pré-candidato democrata Joe Biden faz uma selfie com eleitores depois de comício em Des Moines, Iowa, no domingo (2) — Foto: Reuters/Ivan Alvarado

De acordo com o RealClearPolitics, no dia 28 de janeiro o ex-vice-presidente Joe Biden liderava as intenções de voto nacionais, com 28%. Depois vem o senador Bernie Sanders, com 24%; em terceiro, a senadora Elizabeth Warren, com 15%; em quarto, o bilionário Michael Bloomberg, com 8%; e, em quinto, o ex-prefeito Pete Buttigieg, com 7%.

O que acontece depois que o partido nomeia seu candidato?

Os republicanos precisarão oficializar a candidatura de Trump. Apesar de já ter divulgado que apoiará a reeleição dele, o partido ainda não o nomeou oficialmente como seu candidato. Isso acontecerá na Convenção Nacional Republicana, em Charlotte, na Carolina do Norte, entre 24 e 27 de agosto.

Depois da nomeação oficial, estão previstos três debates entre Trump e o candidato democrata, mas o presidente considera a possibilidade de não participar deles, de acordo com a imprensa americana. Também está previsto um debate entre os candidatos à vice-presidência.

A pré-candidata democrata Elizabeth Warren (de costas) se dirige a eleitores durante um caucus em ginásio em Des Moines, Iowa, na segunda-feira (3) — Foto: Reuters/Brian Snyder

Como será a eleição geral?

A quantidade de votos populares (vindos de cada eleitor) conseguidos por cada candidato não determina, diretamente, quem será o ganhador. (Na eleição de 2016, por exemplo, Trump recebeu menos votos populares do que a adversária, Hillary Clinton, e mesmo assim foi eleitoVeja mais sobre isso mais abaixo na reportagem).

O que vale para determinar o vencedor é o voto do chamado “colégio eleitoral”. Quem tiver uma maioria simples de 270 dos 538 votos do colégio eleitoral leva a Casa Branca e toma posse no dia 20 de janeiro de 2021.

No dia da eleição, tecnicamente, os americanos votam em representantes que votarão pelo seu estado no colégio eleitoral nacional, e não nos candidatos em si. Quando esse colégio eleitoral se reúne, esses representantes votam no candidato, e seu voto é que contará para o resultado da eleição.

Isso torna alguns estados muito importantes para os candidatos, porque os mais populosos têm mais votos no colégio eleitoral. É o caso da Califórnia, que tem 55 votos, do Texas, que tem 38, de Nova York e da Flórida, que têm 29 cada, e de Illinois e da Pensilvânia, com 20 cada. Já os territórios americanos — como Porto Rico — não têm direito a voto no colégio eleitoral, porque não são estados.

Um detalhe importante da corrida deste ano é que a Califórnia terá suas primárias mais cedo — em março, em vez de junho. Isso significa que o estado, que tem a maior quantidade de votos no país no colégio eleitoral, definirá seus votos antes que o de costume.

Como os votos do colégio eleitoral são contados?

Pré-candidatos democratas fizeram na terça-feira (14) o último debate em Des Moines, Iowa, antes das prévias eleitorais dos EUA. — Foto: Charlie Neibergall/AP

Os votos do colégio eleitoral são dados em um sistema de “tudo ou nada”, ou seja: ou o candidato leva todos os votos daquele estado, ou nenhum. Para conseguir os votos do colégio, ele precisa conquistar a maioria do voto popular.

Por exemplo: em 2016, na Califórnia, Hillary Clinton teve cerca de 8,8 milhões de votos. Donald Trump teve cerca de 4,5 milhões. A democrata, então, ficou com todos os 55 votos do colégio eleitoral do estado. Além da Califórnia, Clinton venceu em outros estados populosos, como Nova York, e, por isso, ficou com mais votos individuais.

Mas Trump venceu em mais estados — 34 dos 50 — , ou seja: ganhou mais votos no colégio eleitoral nacional. Foram 304 votos dele contra 227 de Clinton, e por isso ele levou a eleição.

As únicas exceções à regra do “tudo ou nada” são os estados de Maine Nebraska, que distribuem seus votos de forma proporcional entre os candidatos. Isso faz com que seja possível o candidato republicano ganhar 1 voto de Maine e o democrata ganhar os outros 3, por exemplo — que foi o que aconteceu nas eleições de 2016.

O que dizem as pesquisas sobre o provável vencedor da eleição?

Da esquerda para direita: Joe Biden, Elizabeth Warren, Bernie Sanders, Pete Buttigieg, Donald Trump. — Foto: Fotos: Associated Press; montagem: G1

Segundo levantamento de intenções de voto do RealClear Politics feito em 27 de janeiro, o cenário ainda é incerto:

  • Trump perderia para Biden por uma diferença percentual de 4%;
  • Trump perderia para Bloomberg por uma diferença percentual de 3%;
  • Trump perderia para Sanders por uma diferença percentual de 2%;
  • Trump perderia para Klobuchar por uma diferença percentual de 1%;
  • Trump empataria com Warren;
  • Trump ganharia de Buttigieg por uma diferença percentual de 3%.

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