Pais dizem que filho preso em ação contra milícia no Rio tem transtorno mental

Aos 23 anos, Renato da Silva Moraes Júnior não sabe ler nem escrever. O rapaz também se atrapalha ao executar as tarefas mais simples: no hortifruti Areia Branca, em Santa Cruz, onde faz um bico como empacotador, leva bronca por trocar as sacolas dos clientes. Os pais desconfiam que o filho tenha um transtorno mental, mas não têm um diagnóstico definido. Apesar de sua condição especial, vizinhos o descrevem como um “garotão tranquilo” e dizem que ele nunca se envolveu em confusão. No último dia 7, no entanto, Renato foi preso. Ele estava entre os 159 capturados durante uma festa, suspeitas de envolvimento com uma milícia.

A prisão de Renatinho, como é conhecido, gerou comoção entre amigos e vizinhos.

— Ele é brincalhão e está sempre disposto a ajudar. Como tem esse pequeno problema de cabeça, imagino que ele não esteja entendendo nada lá na prisão — lamenta Sebastião de Almeida, de 74 anos, funcionário do hortifruti onde Renatinho trabalha.

Há 17 dias sem poder falar com o filho, o ajudante de pedreiro Renato da Silva Moraes, de 46 anos, não segura as lágrimas. A mãe, Selma da Silva Carvalho, de 50, conta que o rapaz faz bicos em três estabelecimentos como empacotador e ajuda a sustentar a casa de dois cômodos da família.

— Apesar desse jeitinho especial, ele trabalha, ajuda a manter a casa e gosta também de ir a festas. Mas dessa vez ele saiu para se divertir e não voltou mais — diz Selma.

Após audiência, juíza pediu uma avaliação psiquiátrica do rapaz

O caso de Renato chamou a atenção da Defensoria Pública estadual. Ao conversar com o rapaz, após a prisão, um defensor público percebeu que ele não compreendia as suas perguntas. Durante a audiência de custódia com uma juíza, no dia 10, dava respostas incompreensíveis. Outros presos que participavam da videoconferência alertaram a magistrada sobre sua condição especial. A juíza, então, solicitou uma avaliação psiquiátrica do rapaz. Até ontem, no entanto, o exame não havia sido realizado e Renato continuava preso.

— A Defensoria pontuou desde o início que o estado de saúde mental dele era incompatível com qualquer indício de participação em uma organização criminosa. Também fornecemos documentos trazidos pela família que mostram que ele tem identificação e residência fixa. Isso seria suficiente para conceder a liberdade dele, no nosso ponto de vista. No entanto, a decisão foi planificada, coletiva, no sentido de manter todos presos — diz Ricardo André de Souza, subcoordenador de defesa criminal da Defensoria do Rio.

Depoimento de Renato da Silva Moraes, pai de Renatinho

“Renatinho tem uma boa convivência com todos. Ele nunca se envolveu em nenhuma confusão. Apesar das dificuldades, ele frequentou a escola. Repetiu de ano muitas vezes, mas conseguiu se formar. Ele escrevia com uma certa dificuldade, mas agora não consegue nem assinar o próprio nome. Tanto sacrifício não foi à toa. Ele nunca se envolveu com coisa errada. Hoje faz seus bicos no sacolão, numa farmácia e em uma loja de açaí. No dia que foi preso, trabalhou normalmente e à noite avisou que ia sair. Mas não voltou mais. Estamos preocupados porque ele não é um garoto normal. Deve estar só e sofrendo muito. Quando soube da prisão, corri para a Cidade da Polícia, mas não pude falar com ele. Não consegui nem levar roupas limpas para o meu filho. Estamos sofrendo muito por não estar lá cuidando dele”.

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