Nº de eleitores jovens cai por desilusão com política e falta de identificação com os partidos, avaliam especialistas

Um em cada cinco adolescentes de 16 e 17 anos tirou título de eleitor, segundo TSE. Maria Eduarda, de 17 anos, diz que os candidatos não coadunam com suas ideologias. Vinícius, também de 17 anos, afirma que o voto muda completamente o país.

Aos 17 anos, a estudante alagoana Maria Eduarda Andrade tomou uma decisão política: não tirou seu título de eleitora para votar nas eleições de outubro. O motivo não foi esquecimento ou preguiça. A atitude foi pensada e refletida durante um bom tempo, e discutida dentro de casa.

“Eu acho que, neste cenário político e econômico, eu, com 17 anos, não estou preparada para enfrentar essa crise política”, afirmou ela ao G1.

A  adolescente aproveita as horas livres de estudos para manter um perfil no Instagram com dicas e motivação para outros vestibulandos, mas também procura se informar pelos veículos de comunicação tradicionais. Ela diz que visita sempre os portais de notícias e sites de jornais e revistas, apesar de não seguir nenhum deles em suas redes sociais ou no YouTube, onde diz gostar de videoaulas sobre biologia e literatura, além de canais sobre curiosidades e comportamento.

Maria Eduarda tirou nota mil no Enem fazendo duas redações por semana (Foto: Matheus Tenório/G1)

“Busquei quem poderia se candidatar, os possíveis projetos, seus possíveis vices. E acabei notando que nenhum dos prováveis candidatos coadunam com minhas ideologias”, explicou.

Eduarda representa uma parcela de adolescentes que, com 16 ou 17 anos em 2018, têm direito ao voto facultivo nessas eleições. Integrantes de uma geração que nunca viu o mundo sem internet, eles são quase 6,5 milhões de jovens hoje, mas só pouco mais de 1,4 milhão (ou 21,6%) tirou o título neste ano, segundo dados divulgados neste mês pelo Tribunal Superior Eleitoral (TSE). Será a menor participação dos adolescentes nas eleições presidenciais desde 2002.

Eleitorado de 16 e 17 anos no Brasil
Participação dos adolescentes em 2018 é a menor desde 2002

Parcela da população de 16 e 17 anos que tirou título de eleitor7.303.5527.303.5522.217.9482.217.9482.243.2002.243.2007.024.7707.024.7701.638.7511.638.7516.489.0626.489.062Eleição 2002Eleição 2006Eleição 2010Eleição 2014Eleição 201802M4M6M8M

Eleição 2010
6.859.803
Fonte: TSE

Para explicar o que pode ter afetado essa queda de participação eleitoral entre os adolescentes, o G1 falou com os seguintes especialistas:

  • Márcia Dias, professora da Universidade Federal do Estado do Rio de Janeiro (Unirio)
  • Lúcio Rennó, professor de ciência política da Universidade de Brasília (UnB)
  • Antonio Barros, professor de pós-graduação do Centro de Formação da Câmara dos Deputados.

Segundo eles, a queda de participação não pode ser vista de forma isolada do contexto social dos diferentes períodos eleitorais, e os motivos principais que podem ter afastado mais adolescentes das urnas incluem a falta de perspectivas por causa da crise atual e uma desconexão entre candidatos e eleitores jovens.

Sensação de desalento

Para Rennó, da UnB, a constante diminuição do número de jovens eleitores demonstra uma insatisfação significativa de parte da sociedade com o sistema político. “A avaliação dos políticos piorou muito. O grau de desinteresse também aumentou. Há uma sensação de desalento da população em relação à política nacional”, explica ele.

Márcia Dias, da Unirio, diz também que, nos períodos em que ocorre na sociedade uma desilusão com a democracia e com seus agentes, os jovens são os que mais se alienam politicamente.

“Você não pode olhar esses dados descolados dos movimentos da sociedade. O maior ou menor interesse do jovem em relação à política varia como a situação política em geral está percebida por esse jovem” (Márcia Dias).

Os dados mostram que, um ano após as “jornadas de junho”, o número de adolescentes interessados em exercer o direito facultativo ao voto caiu 26,9%, enquanto a população total de 16 e 17 anos cresceu 2,4%. Entre 2014 e 2018, essa variação foi negativa em ambos os casos, mas duas vezes pior entre o eleitorado dessa faixa etária.

G1

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