Ministro da Defesa da Bolívia é o 13º a renunciar ao cargo no país

Por G1

Membros de forças de segurança da Bolívia prendem homem durante confrontos, em 11 de novembro de 2019 — Foto: Carlos Garcia Rawlins/Reuters

O ministro da Defesa da Bolívia, Javier Eduardo Zavaleta López, anunciou sua renúncia na noite de segunda-feira (11), em uma carta postada pelo Ministério da Defesa em uma rede social, na qual ele expressou que sua vontade “foi preservar a institucionalidade das Forças Armadas a serviço da população” e não contra ela.

“Nunca ordenamos que nossos soldados e marinheiros manejassem uma arma contra seu povo e nunca a daremos”, disse Zavaleta.

Zavaleta é o décimo terceiro ministro de Evo Morales a renunciar na crise desencadeada após as eleições presidenciais na Bolívia.

Exército se une à polícia para garantir ordem na Bolívia

“O Estado que construímos é uma Bolívia na qual os militares devem defender sua pátria ao lado de seu povo e não contra ele; portanto, a responsabilidade de apontar armas contra o povo será quem levou a isso”, afirmou Zavaleta.

“Uma questão política não é resolvida aumentando o calibre de repressão contra seus compatriotas. As balas não são a resposta ou a solução. Política são ideias contra ideias e não o zumbido de balas”, diz o texto.

Ministerio d Defensa@mindefbolivia

Comunicamos a la opinión pública la renuncia del Ministro de Defensa Javier Zavaleta López .

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O exército foi empregado pelo comandante das Forças Armadas, Williams Kaliman. Ele anunciou na segunda-feira (11) que enviaria soldados às ruas do país para operações em conjunto com a polícia “para evitar sangue e luto”.

Segundo a imprensa local, os militares já estavam em ação momentos depois do anúncio.

“Vamos empregar a força de forma proporcional contra grupos de vândalos que causam terror à população”, anunciou Kalisman.

Ministerio d Defensa@mindefbolivia

Carta de renuncia al cargo de Ministro de Defensa suscrita por el Sr. Javier Eduardo Zavaleta López.

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Momentos antes, policiais bolivianos haviam pedido intervenção militar para conter manifestações violentas na capital La Paz e na vizinha El Alto – cidades onde os protestos mais tensos ocorrem desde a renúncia de Evo Morales à Presidência do país.

De acordo com o comandante da polícia, Yuri Calderón, a missão conjunta terminará “quando se restabelecer a paz em todo território boliviano”.

Antes, em nota, a Polícia Boliviana afirmou que não quer “carregar mortos nos ombros” por causa de grupos “violentos com intenção de matar”.

“É uma luta desproporcional. A polícia utiliza agentes químicos contra pessoas que usam armas”, disse a corporação, em nota ao jornal “El Deber”.

Militantes favoráveis a Evo desceram em direção ao centro de La Paz onde fizeram barricadas, entraram em confronto com forças de segurança e incendiaram ônibus – mais de 60 foram destruídos. Houve também saques a comércios e depredações de casas de apoiadores dos dois grupos opostos na crise na Bolívia.

Ônibus queimados durante manifestação em La Paz nesta segunda-feira (11) após renúncia de Evo Morales à Presidência da Bolívia — Foto: Ronaldo Schemidt/AFP

Os atos de violência se intensificaram na noite de domingo (10), quando o então presidente anunciou a renúncia, pressionado por denúncias de fraude nas eleições presidenciais que dariam a ele um quarto mandato consecutivo.

Destino de Evo

O México anunciou na segunda-feira que concedeu asilo político a Evo Morales. De acordo com o chanceler mexicano, Marcelo Ebrard, o ex-presidente da Bolívia pediu proteção um dia depois de deixar o cargo sob pressão de opositores, militares e policiais.

Após a decolagem, o chanceler postou uma foto com Evo dentro do avião mexicano, e afirmou que a “vida e a integridade” do ex-presidente boliviano “estão seguras”.

Em mensagem publicada antes de embarcar, Evo agradeceu ao México “pelo desprendimento do governo desse povo irmão que nós deu asilo para cuidar de nossa vida”.

“Dói abandonar o país por razões políticas, mas estarei sempre atento. Voltarei logo, com mais força e energia”, escreveu.

A Organização dos Estados Americanos (OEA) – que marcou reunião para esta terça-feira – está avisada da decisão.

Evo Morales a bordo de avião que o levou para o México — Foto: Chanceler mexicano Marcelo Ebrard / Twitter

O governo do México afirmou mais cedo nesta segunda que reconhece Evo Morales como presidente “legítimo” da Bolívia, e denunciou que sua renúncia se deve a um “golpe” dado pelo Exército, o que classificou como um grave retrocesso para a região.

Ebrard disse que o governo do presidente Andrés Manuel López Obrador não reconhecerá um governo de caráter militar na Bolívia.

“Consideramos um golpe o que ocorreu (na Bolívia) ontem (…) É um golpe porque o Exército pediu a renúncia do presidente e isso violenta a ordem constitucional do país”, afirmou Ebrard em uma coletiva de imprensa com López Obrador.

Evo Morales, pouco depois do anúncio do asilo, publicou a seguinte mensagem no Twitter: “Peço ao meu povo com muito carinho e respeito que cuidem da paz e não caiam na violência de grupos que buscam destruir o estado de direito. Não podemos nos enfrentar entre irmãos bolivianos. Falo chamado urgente para resolver qualquer diferença com diálogo e concertação”, escreveu.

Carta de Renúncia

O Parlamento da Bolívia recebeu a carta com o pedido de renúncia de Evo Morales à Presidência do país. No texto, obtido pelo jornal “El Deber”, o ex-presidente afirma que se retirou do poder devido a “um golpe de estado político cívico policial”.

“Minha responsabilidade como presidente indígena e de todos os bolivianos é evitar que os golpistas sigam perseguindo meus irmãos e irmãs dirigentes sindicais, maltratando e sequestrando seus familiares, queimando casas de governadores, de parlamentares e de conselheiros”, afirma Evo, em carta. “A ordem é resistir para amanhã voltar a lutar pela pátria. Nossa ação é e será defender as conquistas de nosso governo. Pátria ou morte!”, completa o texto.

A segunda vice-presidente do Senado, a opositora Jeanine Añez, disse que a carta de renúncia será apreciada em sessão nesta terça-feira (12), às 11h30 (horário local, 12h30 em Brasília). Além disso, Añez reivindicou o direito de assumir interinamente a Presidência da Bolívia – afinal, o vice de Evo e os presidentes da Câmara e do Senado também renunciaram.

Em discurso, Añez garantiu que respeitará os parlamentares do Movimento para o Socialismo (MAS), partido de Evo que detém maioria no Congresso. A senadora também afirmou que espera que a mudança de governo ocorra até 22 de janeiro.

Depois de Evo, deixaram o posto o vice-presidente Álvaro García, a presidente do Senado, Adriana Salvatierra, o vice-presidente do Senado, Rubén Medinacelli, e o titular da Câmara dos Deputados, Víctor Borda.

A Constituição prevê que a sucessão começa com o vice-presidente, depois passa para o titular do Senado e depois para o presidente da Câmara dos Deputados, mas todos eles renunciaram com Evo.

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