Guaidó e comitiva de deputados furam cerco militar e conseguem entrar na Assembleia Nacional

‘Não são os militares quem decidem quem é deputado ou quem não é. É o povo da Venezuela’, disse o líder opositor
Juan Guaidó tenta entrar na Assembleia Nacional, mas é barrado Foto: YURI CORTEZ / AFP

CARACAS — O líder opositor Juan Guiadó foi novamente barrado na entrada da  Assembleia Nacional da Venezuela, nesta terça-feira, mas conseguiu furar o cerco militar e entrar após cerca de 30 minutos de confronto, com uma comitiva de cerca de cem deputados opositores. No domingo, Guaidó havia sido impedido de entrar no local e teve que pular o muro, após a polêmica eleição do novo presidente, Luis Parra, nomeado apenas com a presença da bancada minoritária do governista Partido Socialista Unido da Venezuela (PSUV).

— Entrar aqui foi um feito — disse Guaidó de sua cadeira, enquanto alguns parlamentares da oposição permaneciam nos arredores do hemiciclo, bloqueados pelas forças de segurança.

Parra, eleito no domingo para a presidência do Legislativo, e acusado por opositores de ser “cúmplice” de Nicolás Maduro, deixou a Assembleia com outros políticos governistas assim que Guaidó conseguiu entrar. Antes, ele havia presidido uma breve sessão, sem o quórum mínimo.

Minutos após a entrada de Guiadó, que cantou o hino nacional junto a opositores, e simbolicamente se juramentou como novo presidente da Casa, a energia foi cortada no local. Do lado de fora, jornalistas chegaram a ser agredidos pelas forças de segurança. Ao sair, Guaidó e outros deputados também foram atingidos por gás lacrimogêneo.

Antes de ingressar no Parlamento, Guaidó afirmara que “não são os militares quem decidem quem é deputado ou quem não é, mas o povo da Venezuela”.

Phil Gunson, consultor do International Crisis Group baseado em Caracas, lembra que Maduro já vinha dado mostras nas últimas semanas de que faria “o que fosse preciso” para impedir que Guiadó tomasse o controle do Parlamento. Mas, ainda assim, a resposta dura demais foi uma surpresa, acredita:

— O governo vinha tentando, com ameças e subornos, mostrar que Guaidó havia perdido o apoio necessário para se reeleger. Como a tática não funcionou, deu uma simples demonstração de força, o que só fortalece a ala mais radical da oposição, que agora volta a se alinhar a Guaidó — afirma ao GLOBO. — Com isso, Maduro reforça que está mais empenhado do que nunca em se manter no poder, sem nenhuma intenção de negociar uma transição, e fará o que for necessário para sobreviver.  Ao mesmo tempo, a cada vez que usa a força contra Guaidó coloca mais em evidência o fato de que não tem os votos para tirá-lo dali.

Para Luis Vicente León, do Instituto Datanálisis, a batalha entre governo e oposição pela Assembleia Nacional é um símbolo “da luta pela unidade da oposição, que o chavismo tenta desmontar.”

“Não se trata de poder, uma vez que o governo já havia tornado nulas as competências institucionais do Parlamento, através da Assembleia Nacional Constituinte e do TSJ [Tribunal Superior de Justiça]”, escreveu no Twitter.

Os analistas acreditam que, a estratégia do governo agora será a de deslegitimar a Assembleia Nacional, para convocar novas eleições o quanto antes.

— O cenário mais provável que o governo termine de excluir Guiadó e outros opositores da Assembleia Nacional. Com isso, pode acabar o forçando a adotar uma estratégia dos mais radicais, que falam em montar um governo no exílio — diz o consultor do International Crisis Group, que não acredita, no entanto, que Guaidó possa ser preso.— Maduro prefere ameaçá-lo para que deixe o país, mas não quer chegar a esse extremo.

No domingo, o governo Maduro já havia usado as principais forças de segurança para impedir a entrada de deputados opositores na sede da Assembleia. Seus aliados, em seguida, renovaram as autoridades parlamentares, no que foi considerado uma “cerimônia ilegal” e um “golpe” por seus adversários.

Horas depois, Guaidó comandou uma sessão parlamentar paralela na redação do jornal El Nacional, em Caracas, onde afirmou ter reunido mais de cem deputados, e foi reeleito presidente do Legislativo, tendo como primeiro vice o deputado Juan Pablo Guanita e como segundo vice-presidente Carlos Berrizbeitia.

Guaidó denuncia que Maduro subornou parlamentares para votarem contra ele. Já Parra acusa Guaidó de ter “sequestrado o Parlamento” e usado a entidade para derrubar Maduro do poder.  Ele foi expulso do partido opositor Primeiro Justiça no fim do ano sob acusação de corrupção e teria se aliado às forças governistas.

Na segunda-feira, os governos de Uruguai, México e Argentina —  países que reconhecem a Presidência de Nicolás Maduro — criticaram o processo que no domingo impediu a reeleição de Guaidó para o comando do Legislativo.

Os Estados Unidos, por sua vez, anunciaram que estão estudando sanções adicionais para aumentar a pressão sobre o governo Maduro. Em uma ligação de cerca de uma hora a Guiadó, o
vice-presidente dos EUA, Mike Pence, parabenizou o líder da oposição venezuelana por sua reeleição.

Comentários no Facebook

DEIXE UMA RESPOSTA

Please enter your comment!
Please enter your name here