Entre protestos, Trump acirra ânimos com decisão sobre Jerusalém

Fúria nas ruas. Palestinos queimam bandeiras dos EUA e de Israel em Gaza: grupo radical Hamas disse que a decisão abriu “as portas do inferno” para interesses americanos – MAHMUD HAMS/AFP

 

WASHINGTON – Ignorando todos os alertas feitos no dia anterior e rompendo com décadas de diplomacia americana, o presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, reconheceu oficialmente Jerusalém como a capital de Israel, reivindicando “uma nova abordagem” sobre o conflito e ordenando o início imediato dos preparativos para a transferência da embaixada americana de Tel Aviv para a cidade sagrada. O anúncio desencadeou protestos em várias cidades turcas, na Faixa de Gaza e na Cisjordânia e recebeu críticas amplas na comunidade internacional, incluindo aliados na região e na Europa. Oito países pediram uma reunião de emergência do Conselho de Segurança da ONU. Após o pronunciamento, o primeiro-ministro israelense, Benjamin Netanyahu, comemorou o “dia histórico”. Já Mahmoud Abbas, presidente da Autoridade Nacional Palestina (ANP), lembrou que “Jerusalém é a eterna capital do Estado da Palestina”. Por sua vez, o grupo radical Hamas disse que Trump abriu “as portas do inferno” para os interesses americanos.

No discurso, em que evocou por diversas vezes os “erros cometidos por presidentes americanos no passado”, Trump ainda prometeu que fará todo o possível para um acordo de paz e se comprometeu com a criação de um Estado palestino — sem, no entanto, indicar como a controversa mudança poderia ajudar nesse sentido.

— Presidentes anteriores fizeram desta uma grande promessa de campanha, e nunca cumpriram. É hora de oficialmente reconhecer Jerusalém como capital de Israel. Israel é uma nação soberana com o mesmo direito de outras nações de determinar sua capital. Reconhecer isso é um passo para alcançar a paz — reiterou Trump, que disse ter tomado a decisão para defender os interesses dos EUA.

Mas muitas perguntas ficaram sem respostas. Além de deixar em aberto uma posição sobre as fronteiras finais de Jerusalém, ou sobre a indivisibilidade da capital, como reivindica Israel, Trump pediu que o status quo das áreas sagradas — incluindo o platô que os judeus chamam de Monte do Templo, e os muçulmanos, Esplanada das Mesquitas — seja mantido. O presidente também ressaltou que estava cumprindo uma promessa de campanha, o que mostra a dimensão política interna da decisão. Ele disse que instruirá o Departamento de Estado a contratar arquitetos para iniciar a construção da embaixada imediatamente.

— Não desistimos do acordo de paz. Seria loucura assumir que repetir exatamente a mesma fórmula produziria um resultado diferente ou melhor.

Analistas, no entanto, acreditam que a mudança pode ter o efeito inverso e acirrar ainda mais os ânimos na região, inclusive unindo facções que estavam afastadas contra Israel. John Brennan, ex-diretor da CIA, afirmou que a declaração de Trump foi “imprudente”.

— A decisão prejudica os interesses dos EUA no Oriente Médio nos próximos anos e tornará a região mais volátil — afirmou.

Jared Kushner, conselheiro sênior da Casa Branca e genro do presidente, e o enviado especial Jason Greenblatt, vêm se preparando há meses para uma negociação entre israelenses e palestinos. Os esforços, no entanto, estariam seriamente comprometidos com o anúncio. Em reunião em Bruxelas, o secretário de Estado dos EUA, Rex Tillerson, foi severamente criticado por aliados europeus:

— O presidente está comprometido com o processo de paz no Oriente Médio — rebateu.

 

Após o anúncio, como era esperado, o premier israelense comemorou a decisão.

— Exorto todos os países que buscam a paz a se juntarem aos EUA e reconhecerem Jerusalém como a capital de Israel e moverem suas embaixadas — convocou Netanyahu.

O secretário-geral da OLP, Saeb Erekat, declarou que Trump “destruiu a solução de dois Estados”. Abbas, por sua vez, disse que a decisão “equivale a uma renúncia da parte dos EUA ao papel de mediador da paz”.

— Acho que esta noite (Trump) está estimulando as forças do extremismo na região como ninguém nunca havia feito até agora — afirmou Erekat.

POR O GLOBO

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