Brasil inaugura nova base científica na Antártica nesta terça-feira

Por G1

A nova estação brasileira na Antártica será inaugurada nesta terça-feira (14), em uma cerimônia que tem início previsto para as 17h (horário de Brasília). O complexo de mais de 4,5 mil m² será entregue quase oito anos após o incêndio que destruiu a base anterior. Pesquisadores brasileiros estão há mais de três décadas no continente.

O vice-presidente Hamilton Mourão embarcou nesta segunda-feira (13) com destino à Antártica, para participar da reinauguração como o principal representante do governo brasileiro. A base fica na Ilha do Rei George.

Perspectiva da Estação Antártica Comandante Ferraz — Foto: G1 / Amanda Paes

Pouco impacto ambiental

A Estação Antártica Comandante Ferraz recebeu um investimento de US$ 99,6 milhões (cerca de R$ 400 milhões), e vai conseguir acomodar até 64 profissionais do Programa Antártico Brasileiro (Proantar). Um dos destaques do novo prédio é que ele tem diversas iniciativas sustentáveis.

O arquiteto João Gabriel Rosa, do Estúdio 41, um dos responsáveis pelo projeto da estação, contou ao G1 que o prédio foi pensado desde a construção para ter o mínimo de impacto ambiental possível.

“A questão da sustentabilidade está muito ligada à responsabilidade de não intervir naquele espaço. Pensamos em diminuir o impacto da construção e da logística”, explicou ele.

Painéis solares na Estação Antártica Comandante Ferraz: como o Sol fica na linha do horizonte, e nunca acima da construção, as placas precisam ser instaladas na posição vertical — Foto: Divulgação / Estúdio 41

Toda a estrutura usada na construção é desmontável e reciclável. Rosa explica que todos os módulos foram feitos em contêineres fáceis de serem transportados por qualquer navio. Além disso, os acabamentos e parte da montagem da estrutura foram feitos fora da Antártica, o que diminuiu o impacto por transporte, otimizando a logística.

Estação Antártica Comandante Ferraz conta com geradores eólicos e placas fotovoltaicas. — Foto: Divulgação Estúdio 41

A questão energética também foi pensada no projeto para ser menos dependente de energias não renováveis.

Por isso, foram instalados painéis fotovoltaicos e geradores eólicos que produzem cerca de 30% da energia consumida na estação.

“Nos edifícios, há eficiência energético para garantir o conforto de quem estiver lá. As paredes possuem um painel de 22 centímetros que exige menos energia para manter o local aquecido”, explica Rosa.

Geradores eólicos na Estação Antártica Comandante Ferraz; ventos chegam a 200 km/h — Foto: Divulgação / Estúdio 41

O projeto arquitetônico também pensou a captação da água, o tratamento de esgoto e a questão do lixo produzido pela estação.

O arquiteto João Rosa diz que a captação da água é feita em duas lagoas próximas à estação. Tanto o tratamento da água de consumo quanto a do esgoto foram planejados para gerar o menor impacto ambiental possível.

A estação também tem um plano de gerenciamento de resíduos: todo o lixo produzido é separado para a reciclagem e retorna ao Brasil.

Estação Antártica Comandante Ferraz: Tanto o tratamento da água de consumo quanto a do esgoto foram planejados para gerar o menor impacto ambiental possível. — Foto: Divulgação / Estúdio 41

Construção mais segura

Construído em um local inóspito, o continente antártico, o complexo consegue suportar temperaturas negativas, nevascas e ventos de até 200 km por hora. A estrutura ainda tem sistemas de detecção, alarme e combate a incêndios.

Os preparativos para reconstruir a estação tiveram início ainda em 2012, com a retirada dos escombros da antiga base. Depois disso, a Marinha lançou um edital para a obra do novo complexo, que não recebeu nenhuma proposta até 2014.

Uma nova licitação foi aberta em 2015, e a empresa chinesa Ceiec foi escolhida para realizar as obras.

A nova estação brasileira na Antártica será inaugurada, nesta terça-feira (14), pela Marinha — Foto: Divulgação Marinha do Brasil

Como só é possível trabalhar na Ilha Rei George durante os cinco meses do verão antártico, que vai de outubro a março, a empresa executou a obra em diferentes etapas. Parte da estação foi preparada na China, em módulos que só foram levados e montados após o fim do inverno.

Dividida em 3 módulos

O prédio principal da nova estação brasileira é dividido em três grandes blocos: o Leste, o Oeste e o Técnico. Neles, se encontram a maior parte dos laboratórios, os dormitórios e os serviços básicos da estação, divididos desta forma:

Bloco Leste: é o bloco das pesquisas, de convivência e serviços. É onde se concentram os laboratórios. Dos 17 no total, 14 estão lá. Os outros 3 ficam em módulos separados. Além disso, é onde ficam os refeitórios, a cozinha, a ala de saúde, a sala de secagem e as oficinas.

Bloco Oeste: é uma área privada da base, onde moram os pesquisadores, além de concentrar as áreas de convívio. Há 32 quartos, uma biblioteca, uma academia e auditório. Nas partes mais baixas deste bloco estão os depósitos de mantimento e reservatórios de água.

Bloco Técnico: é onde fica o controle da rede elétrica, sanitária e de automação da estação. Também é onde está a garagem. Além disso, há uma estação de tratamento de água e esgoto, casa de máquinas, geradores, e sistemas de aquecimento, bem como um incinerador de lixo.

Infográfico mostra nova estação brasileira na Antártica — Foto: Amanda Paes/G1

Centro de pesquisas

Criado em 1982, o Proantar leva ao continente gelado pesquisadores que atuam nas áreas de oceanografiabiologiaglaciologiaquímica meteorologia. Os trabalhos são desenvolvidos em acampamentos, navios e estações.

A nova estação ficará no mesmo local da estrutura antiga, instalada em 1984 na Península Keller, dentro da Ilha Rei George. A primeira base abrigou pesquisadores até fevereiro 2012. Um incêndio onde ficavam os geradores de energia do complexo destruiu quase toda a estrutura e provocou a morte de dois militares.

Apesar do incêndio, as pesquisas brasileiras na Antártica não pararam. Na Ilha Rei George, os trabalhos foram desenvolvidos em uma estação provisória, montada ao lado da base consumida pelo fogo. Os “módulos emergenciais” foram usados enquanto os pesquisadores aguardavam o final da reconstrução.

“Essa nova base vai nos dar condições de trabalho e um salto qualitativo nas pesquisas científicas”, diz Paulo Câmara, pesquisador da Universidade de Brasília (UnB) que trabalha na estação.

Pesquisadores brasileiros estão há mais de três décadas desenvolvendo estudos no continente por meio do Programa Antártico. Eles não ficam restritos à Ilha Rei George, onde foi instalada a estação. Há, também, trabalhos sendo desenvolvidos no navio Almirante Maximiano e em acampamentos montados em diferentes pontos da Antártica.

“São 14 milhões de km², uma das maiores reservas de gás e de água doce do mundo. 70% da água doce do mundo está aqui”, diz Câmara, que estuda a vegetação antártica.

Há, ainda, o módulo Criosfera 1, um contêiner que coleta dados e foi instalado a cerca de 2,5 mil km de onde fica a estação.

As pesquisas realizadas em solo antártico são variadas e cobrem diferentes áreas do conhecimento. De acordo com um dos editais mais recentes do Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq), de 2018, as propostas de projetos aprovados vão de geologia a medicina.

Equipe de pesquisadores posa em frente a Estação Antártica Comandante Ferraz, que é inaugurada nesta terça (14) — Foto: Reprodução/TV Globo

Veja abaixo as áreas de estudo:

O papel da criosfera no sistema terrestre

  • Dinâmica da alta atmosfera na Antártica
  • Mudanças Climáticas e o Oceano Austral
  • Biocomplexidade dos ecossistemas antárticos
  • Geodinâmica e história geológica da Antártica
  • Química dos oceanos, geoquímica marinha e poluição marinha
  • Biologia Humana e Medicina Polar
  • Inovação em novas tecnologias

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