Avenida Brasil tem uma vítima de crime a cada meia hora; veja os trechos mais perigosos

Avenida Brasil, a mais extensa via do país. E, também, a mais perigosa via expressa do Rio de Janeiro, um desafio quilométrico para a intervenção federal em andamento no estado. Para a medida não empacar já no principal corredor de acesso à capital fluminense, será preciso ultrapassar a insegurança de 58 quilômetros cercados por dezenas de favelas, parte delas entre as mais violentas da cidade, como o Complexo da Maré, a Vila Kennedy e a Cidade Alta. Um risco constante para os 250 mil automóveis que cruzam a avenida todos os dias — é como se, em duas semanas, a frota inteira de veículos do município passasse pelo mesmo lugar. Um endereço que faz uma nova vítima a cada 30 minutos, como o EXTRA começa a revelar hoje, na série “O crime passa pela Brasil”.

O levantamento abrange os três últimos meses do ano passado. Foram esmiuçados 37 mil registros de ocorrência feitos em 13 delegacias da cidade, todas atendendo, da Zona Portuária a Santa Cruz, ao menos um dos 27 bairros cortados pela Avenida Brasil — um a cada seis do município. A análise final considerou somente os casos em que a via expressa aparecia no campo “logradouro”, referente ao local do fato. Constatou-se, assim, que a avenida foi cenário de 2.941 crimes no período, com 4.304 vítimas (uma mesma situação pode ter mais de uma pessoa como alvo, como nos roubos em ônibus).

A pesquisa resulta em um conteúdo inédito e exclusivo, que traz à tona o mapa da criminalidade na Avenida Brasil. Quem passa pelos cinco primeiros quilômetros no sentido Zona Oeste, por exemplo, até a altura da Fiocruz, em Manguinhos, tem mais chances de ser roubado em um ônibus — o trecho, onde fica a Maré, destino comum dos ladrões após o desembarque, concentra quase 60% dessas ocorrências.

Já para um motorista de caminhão, convém redobrar a atenção do número 10.000 ao 20.000, entre o fim da Penha e Coelho Neto. Situada no limite com os bairros de Barros Filho e Costa Barros, redutos de quadrilhas especializadas em roubos de cargas, essa área responde por quatro em cada dez assaltos do gênero na Avenida Brasil.

Ao todo, 90% das vítimas foram alvo de situações relativas a problemas de segurança pública, sobretudo crimes contra o patrimônio (roubos e furtos) e contra a vida. Entretanto, a conta inclui ainda acidentes de trânsito e crimes de menor potencial ofensivo, como nos dois casos de perturbação da tranquilidade registrados no período.

Viatura não atinge 90km/h

Ao longo de sua extensão, a Avenida Brasil corta a área de oito batalhões da PM. A tarefa de patrulhar a via, contudo, recai especialmente sobre o Batalhão de Policiamento de Vias Expressas (BPVE), que também faz a segurança de locais como a Linha Vermelha e a Linha Amarela. A unidade, no entanto, sofre com os mesmos problemas de estrutura que afetam o restante da corporação, potencializados pela crise financeira no estado.

Era uma noite de quinta-feira, 28 de dezembro do ano passado, e uma viatura do BPVE circulava pela Brasil. Na caminhonete S10, havia seis policiais: três cabos e três soldados. Quando o rádio da corporação comunicou sobre um veículo suspeito de roubo circulando pela região, os PMs rapidamente conseguiram localizar o automóvel em questão.

O motorista ligou o giroscópio e começou uma perseguição. Os suspeitos, porém, logo sumiram de vista. “A viatura em que a guarnição estava não consegue atingir a velocidade de 90km/h”, justificaram os agentes ao fazer o registro de ocorrência. Ou seja: um carro da unidade destinada a patrulhar especificamente vias expressas não alcança sequer a velocidade máxima permitida para alguns trechos da Avenida Brasil. No caso, para escapar da polícia, os bandidos não precisaram nem levar multa.

Perseguição frustrada e mortes

Se com a viatura em movimento não deu certo, a guarnição da situação relatada acima decidiu, em seguida, realizar uma blitz. Por força do acaso ou imprudência dos criminosos, o mesmo Fiat Idea roubado, de cor prata, passou pelo bloqueio policial, dando início a uma troca de tiros.

No confronto, o ocupante de um terceiro veículo foi baleado. Paulo Cândido Afonso, de 39 anos, foi socorrido no Hospital municipal Albert Schweitzer, em Realengo, mas não resistiu aos ferimentos. “Os meliantes se evadiram do local”, observaram os PMs ao registrarem o fato na Delegacia de Homicídios (DH).

Quando o policiamento falha, abre-se espaço para o justiçamento. Dois dias antes da perseguição frustrada, um adolescente de 16 anos e um rapaz de 18 foram encontrados mortos a tiros na Avenida Brasil, na altura de Coelho Neto, por uma patrulha do BPVE. Um corpo ficou na via e outro no interior de um ônibus, que a dupla teria tentado assaltar. O autor dos disparos fugiu sem deixar pistas.

‘Tem um posto desativado da PM em frente’

Depoimento do mecânico X, de 44 anos, morador de Campo Grande

“Fui a um supermercado na Avenida Brasil, em Santa Cruz, e comprei duas televisões, a R$ 1.700 cada. Na saída, um carro me fechou e um homem desceu de fuzil. “Me dá logo, me dá logo”, ele disse, e levou as TVs. Uma tinha sido parcelada em 20 vezes, e a outra em dez. Ainda estou pagando as duas. O pior é que tem um posto desativado da PM em frente ao mercado. Nunca mais voltamos lá.”

‘Fizeram pelo menos mais dez vítimas’

Depoimento da enfermeira Y., de 32 anos, moradora de Guadalupe

“Estava no ponto, no Caju, esperando o ônibus para ir para casa, bem na hora do rush. Apareceram dois homens armados com pistolas e anunciaram o roubo. Levaram minha bolsa e fizeram pelo menos mais umas dez vítimas. Foram embora de moto, na maior tranquilidade, aparentemente sem o menor medo de serem pegos. É muito revoltante.”

Resposta da Polícia Militar

O Extra solicitou à Polícia Militar uma entrevista com o comandante do BPVE, tenente-coronel Walter Teixeira da Silva Junior. O pedido, porém, foi negado. A corporação também foi perguntada sobre o total de policiais e de viaturas que patrulham a Avenida Brasil diariamente. Mais uma vez, os números não foram informados. Abaixo, veja a íntegra da nota enviada pela assessoria da PM.

“A Avenida Brasil conta com patrulhamento do Batalhão de Policiamento em Vias Expressas (BPVE) em suas duas pistas com 58,2 quilômetros cada que vão do Caju até Santa Cruz. Na via são realizadas rondas em viaturas e com grupamentos de motociclistas, que também são empenhados no atendimento ao cidadão pela Central 190. Além desta via, o BPVE atua nas Linhas Vermelha e Amarela e na Transolímpica e no último trimestre de 2017 foram feitas 44 prisões em flagrante, incluindo crimes de roubo. Ressaltamos que o combate ao crime não cabe apenas ao patrulhamento, sendo necessárias investigações, pois há delitos que extrapolam a capacidade de repressão do policiamento ostensivo.

Recentemente, como forma de contribuir para melhorar a atuação ostensiva da Polícia Militar, a Corporação formalizou em pregão eletrônico a compra de mais de 700 novas viaturas e já iniciou a reforma de parte da frota.”

Fonte: Extra

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