Diário do Sambito

Dissidentes, PSOL e Rede se reaproximam do petismo e discutem futuro partidário

Por Bernardo Mello — Rio de Janeiro

Luciana Genro (PSOL-RS) e Randolfe Rodrigues (Rede-AP): parlamentares de Rede e PSOL debatem diferentes níveis de aproximação com Lula Montagem com fotos de Reprodução/Facebook e Waldemir Barretto/Agência Senado

Após terem rompido com o PT nos governos Lula e Dilma em meio a casos como o mensalão, a Lava-Jato e a reforma da Previdência, integrantes de PSOL e Rede se reaproximaram da sigla e aceleraram debates internos sobre o futuro dos respectivos partidos. O movimento ocorre em meio ao retorno de Lula à Presidência e a dificuldades para superar a cláusula de barreira desde 2018 — PSOL e Rede formaram uma federação nas eleições de 2022, com duração de quatro anos.

No PSOL, mesmo integrantes de alas minoritárias, mais resistentes ao PT do que a atual cúpula do partido, admitem a montagem de alianças eleitorais em 2024, a exemplo do ocorrido na eleição presidencial do ano passado, sob o argumento de enfrentar o bolsonarismo nas disputas municipais. Além do deputado federal Guilherme Boulos (SP), que busca o apoio petista para concorrer à prefeitura de São Paulo, há conversas para alianças com o PT em capitais como Porto Alegre, Belém e Macapá, segundo o presidente da sigla, Juliano Medeiros.

Para a deputada estadual Luciana Genro (PSOL-RS), expulsa do PT em 2003 por votar contra a reforma da Previdência do governo Lula, a avaliação interna do PSOL é que “não há problema” em aliança eleitoral com petistas, o que se dá em reação ao “fortalecimento da extrema-direita” no governo Bolsonaro. Até 2020, o PSOL não formava alianças com petistas.

— Nas eleições municipais, faremos novamente o debate da unidade para enfrentar o bolsonarismo, e nossa federação com a Rede precisa se manter nesse processo — afirmou Luciana.

A resistência do grupo de Luciana Genro, por outro lado, foi um dos obstáculos para um ingresso formal do PSOL no governo Lula, que acabou não ocorrendo. Em um acordo com a direção nacional, o PSOL liberou filiados, como a ministra dos Povos Indígenas, Sônia Guajajara, a assumir postos no Executivo, desde que se afastassem da direção partidária.

Na Rede, o senador Randolfe Rodrigues (AP) citou, em entrevista ao Valor em janeiro, uma proposta de incorporação da sigla a PT ou PSB, sigla do vice-presidente, Geraldo Alckmin. Integrantes da Rede e do PSOL disseram ao GLOBO que a tese foi mal recebida e associada a um movimento pessoal de Randolfe, que já foi filiado ao PT, passou pelos dois partidos e hoje avalia um retorno à sigla de Lula ou ingressar em legendas da base do governo, como MDB e PDT. É um caminho similar ao feito pelo ex-psolista Marcelo Freixo, atual presidente da Embratur, que anunciou no último mês sua volta ao PT após 20 anos.

Membros da Rede, porém, reconhecem que o debate interno do partido, inclusive sobre a relação com o governo Lula, ganhou ares de urgência e de pressão sobre a cúpula partidária após desempenhos considerados insatisfatórios nas eleições de 2018, 2020 e 2022.