O grande acordo nacional: Cármen Lúcia, que salvou Aécio e tomou chá com Temer, condena Lula. Por Kiko Nogueira

O golpe não ia parar no impeachment de Dilma.

Estava no script de Jucá, com o Supremo, com tudo, que Lula seria retirado da disputa.

Não fazia sentido, depois da farsa de 2016, que Lula levasse a melhor no julgamento de seu habeas corpus.

Poucas coisas são mais embaraçosas que a fogueira de vaidades do STF.

Rosa Weber selou o destino do ex-presidente com um voto prolixo, supostamente hermético, na verdade confuso para acobertar sua covardia.

Quatro ministros indicados por Dilma votaram contra o chamado “remédio heroico”: o diminuto Fachin, Fux, Barroso (nosso Freddie Mercury de toga) e a supracitada Rosa.

Alexandre de Moraes foi ele mesmo, o esquisitão da classe, meio tosco, que todo mundo finge que respeita porque tem medo que ele jogue uma bola de papel molhada nas costas dos coleguinhas.

“Em termos de desgaste, a estratégia não poderia ser pior”, disse Marco Aurélio a Cármen, em referência à decisão de colocar em pauta o HC e não as ações declaratórias de constitucionalidade (ADCs), que discutem o tema de forma genérica, sem um réu específico.

Cármen foi indicação de Lula — e a ela coube o voto de Minerva, saindo como heroína da Globo, ponto alto de uma trajetória marcada pela mediocridade.

Logo de cara anunciou que manteria “coerência com manifestações anteriores”. 6 a 5. Bingo.

Para quem já vinha lambendo as botas da Globo, dobrar-se a um general foi mole.

Há uma justiça poética no ridículo sublime de ser a mesma Cármen que salvou Aécio Neves com um voto que ela admitiu “extremamente conturbado”.

A mesma Cármen que se encontra com o investigado Michel Temer para tomar chá fora da agenda.

Foi mais uma amostra do apequenamento que, ali, é regra.

Rasgou a Constituição e assim entra para a História.

No Circo Voador, no Rio de Janeiro, no ato em defesa da democracia e contra o fascismo, homenageando Marielle, Lula lembrou Getúlio.

Se ele tivesse em vida “10% do apoio que teve depois de morrer”, falou, “não teria se matado”.

É inevitável pensar que Lula estava, de alguma maneira, fazendo uma auto referência.

Nós vamos cumprir nossa vocação de assistir a tudo passivamente? Sim, ao que tudo indica.

Aristides Lobo é autor de uma frase definitiva sobre esse traço nacional.

Numa carta, escreveu sobre a proclamação da República em 1889: “O povo assistiu àquilo bestializado, atônito, surpreso, sem conhecer o que significava”.

O que significa, no atual roteiro cheio de spoilers, é um candidato da direta contra o da extrema direita, já estabelecido, Bolsonaro.

A obra de Carminha não seria possível sem várias participações especiais — inclusive a nossa.

Frente ampla de esquerda já. Ou nos locupletemos todos com Luana Piovani em Portugal.

diariodocentrodomundo.com.br

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